Conceituando a doença

A carcinomatose peritoneal é o termo médico para presença do câncer disseminado no peritôneo (uma especie de fina capa protetora, brilhante que reveste internamente todo o nosso abdomen e os órgãos abdominais, como se fosse um “filme de magipack”. Quando isso ocorre significa que o câncer proliferou implantando no peritôneo, causando aderência entre órgãos, podendo causar obstrução do intestino e produção de grande quantidade de liquido (ascite).

Nesta fase a doença causa grande desconforto ao paciente e, se não tratada, tem majoritariamente uma altíssima letalidade, levando à morte em pouco tempo.

A vasta maioria dos casos são tumores metastáticos (com origem em outros órgãos e que se implantaram no peritôneo). Entre os tumores que podem dar metástase peritoneal encontra-se o cancer de ovário e o de endométrio, além de tumores gastro-intestinais.

Porém, a carcinomatose peritoneal pode ser primária do peritôneo, ou seja, o câncer já começou na próprio membrana. Embora sejam tumores mais raros, sua presença é de dificil tratamento, exige rápido planejamento terapêutico quando diagnosticado e o tratamento geralmente uma grande cirurgia chamada peritoniectomia, que muitas vezes é associada ao procedimento de Quimioterapia Intraperitoneal Hipertérmica (do inglês HIPEC). Quando a doença é primária, as tipos mais frequentes são: o Peseudomixoma, o Mesotelioma Peritoneal Maligno (MPM) e o adenocarcinoma (mais frequente em mulheres).

A carcinomatose peritoneal é uma moléstia gravíssima com elevada mortalidade e morbidade. Pode ocorrer em ambos os sexos e qualquer idade, porém é mais frequente na faixa etária entre 40 e 65 anos.

Até alguns anos atrás, não havia qualquer tratamento para esta condição e seu diagnóstico representava um atestado de óbito para as pessoas acometidas. No entanto nas ultimas décadas houve um grande avanço tecnológico nas abordagens cirúrgicas e na anestesia, possibilitando novos horizontes para a doença. Com isso conseguimos hoje oferecer para estas pessoas diversas estratégias terapêuticas que podem aumentar sobremaneira a sobrevida, cura em alguns casos, ou alivio de sintomas e melhora da qualidade de vida para muitos pacientes.

Como se manifesta

O grande desafio nesta doença está em fazer o diagnostico em uma fase precoce, pois ela é silenciosa e no seu inicio geralmente não tem sintomas ou são tao vagos, como uma pequena sensação de empachamento, que muitas vezes é menosprezada pela paciente. Por sua vez, quando avançada, na maioria das vezes, a carcinomatose produz sintomas que podem ser comuns a várias patologias, como por exemplo, aumento de volume abdominal. Em outras situações a paciente pode notar aparecimento de hérnia no umbigo que nao tinha antes, dores inespecificas pelo abdômen, sinais de disfunções digestivas (dispepsias), cansaço, perda de apetite, perda de peso, vômitos ou mudança no hábito intestinal. Numa fase bem avançada pode surgir a “barriga d’água” (ascite).

Diagnóstico

Em caso de suspeita de carcinomatose peritoneal, além do exame clínico, seu médico provavelmente solicitará a realização de alguns exames que ajudarão no diagnóstico, entre eles:

  • Exames laboratoriais (exame de sangue) para análise de marcadores tumorais (CEA, CA 125, CA 19-9, CA 15-3).
  • Exames de imagem, como ultrassom, tomografia e ressonância magnética.
  • Eventualmente, podem ser necessárias também endoscopia e colonoscopia, para avaliar a eventual presença de tumores no estômago e intestino que possam ter se disseminado para o peritônio.

Tratamento

Para definir a estratégia de tratamento da carcinomatose peritoneal, o Cirurgião Oncológico Pélvico leva em conta diversos fatores inter-relacionados:

  •  Lugar de origem da doença (sítio primário, na linguagem médica).
  •  Extensão do câncer na cavidade abdominal (mensurada pelo Índice de Câncer Peritoneal – ICP, que varia de 0 a 39, conforme a gravidade da doença).
  • Idade e estado de saúde do paciente.

As alternativas de tratamento incluem:

  • Cirurgia citorredutora, que tem por objetivo remover todos os tumores visíveis da cavidade peritoneal. Durante o procedimento, também podem ser extraídos tumores de outras partes do abdome (intestino, pâncreas, bexiga, etc.) ou órgãos inteiros, como ovários e vesícula. Esta é uma poderosa estratégia e boa parte das vezes é combinada com HIPEC (Quimio-Hipertermia Intraperitoneal) ou Pipac
  • HIPEC, é uma técnica quer permite, durante o ato cirúrgico, circular sob pressão, um ou mais agente quimioterápico, em elevada termperatura, tumbilhonando no interior do abdomen, durante uma hora ou mais, geralmente após a cirurgia citorredutora.
  • Quimioterapia com aerossol intraperitoneal pressurizada, conhecida pela sigla Pipac (veja detalhes em Novidades).
  •  Quimioterapia tradicional.

Até os anos 90, a carcinomatose peritoneal tinha um prognóstico bastante desfavorável. Isso mudou com os avanços das cirurgias citorredudoras e as novas modalidades de quimioterapia intraperitoneal que tornaram a cura possível e, quando não, permitem controlar a doença, com ganhos importantes em termos de sobrevida.